domingo, 25 de novembro de 2012

Magras e cegas



Li três guias de estilo. Fiquei curiosa com relação a um deles, ganhei outro de presente... e um terceiro chegou à redação em que trabalho. Li os três. Acho que sempre se aprende algo novo com quem tem um olhar treinado. O problema é que o mercado da moda, em alguns momentos, se descola da realidade de uma forma espantosa. 

Algumas recomendações desses guias me insultam barbaramente. E saí em busca de explicação. Só encontrei uma: as autoras são magras. De uma delas vi a foto no próprio livro, das outras fui pesquisar no Google. Magras! Amigas de magras, trabalham com magras e falam para magras. 

Se eu tenho raiva de magra? Não, tenho inveja. Ser magra, tudo bem. O problema é ser cega e não enxergar o que o mundo da moda não devia desprezar: a maioria das mulheres tem sobrepeso.

Nos 3 guias que li as autoras adoram dizer que compram camisetinhas descoladas em loja de criança. "A tamanho 14 anos fica perfeita em mim". Oi!? "Camiseta branca básica de malha bem justinha toda mulher tem que ter e as melhores são das lojas infantis". Gente, pára a leitura que eu quero descer! Além de conhecer poucas mulheres que cabem numa camiseta 14 anos, qual é a mulher depois do 30 que tem condição de usar camiseta branca bem justinha!?

Duas das autoras aconselham a leitora a guardar todos os sapatos fora das caixas para poder visualizá-los. Mas quem guarda sapato em caixa? Você convive com alguma assalariada que tenha armário ou closet suficientemente grande para guardar os sapatos em caixa? Me fala.

Outro guia de estilo dos que folheei, sugere com fotos "looks" montados com uns trapinhos "que qualquer um tem em casa": short desfiado, blusa manchada e tênis velho. Isso só é bacana na Zona Sul do Rio de Janeiro, onde o povo adora fazer o gênero "peguei no armário e nem olhei". Devo informar que em outras regiões da cidade e no restante do país ninguém acha bonito andar assim.

E nas fotos de todos os guias, as pessoas "flagradas" na rua usam manequim 36, 38. Quero ver montar “look” pra gente normal, que veste 42 e 44. A ultima vez que entrei num manequim 38 eu devia ter 15 anos. Façam coisas para o meu tamanho e depois venham falar comigo.

sábado, 17 de novembro de 2012

Não fale com estranhos


Este post é para o taxista, que não entendeu que ontem à tarde peguei um táxi porque não queria me aborrecer no trânsito, nem procurando vaga. E que eu estava torcendo por 20 minutos em que pudesse ficar sozinha com meus pensamentos. Moço, eu respondi monossilabicamente a todas as suas tentativas de puxar conversa. Como taxista, o senhor deveria entender que é um sinal de que o passageiro quer ficar quieto. Estou pagando pelo o que deveria ser um pouco de sossego. No restante do dia, sabe, eu só tenho tranquilidade quando estou dormindo. Trabalho com muita gente, tenho um filho pequeno, uma empregada nova que faz muitas perguntas...

Esse post também vai para a senhorinha que se sentou ao meu lado no ônibus, sábado, quando voltei da praia. Meu marido e meu filho estavam num passeio de meninos e eu queria aproveitar para ver a paisagem da cidade tranquilamente. Queria ver o entra-e-sai, os rostos, ouvir pedaços de conversa que não me dizem respeito. Eu não queria, minha senhora, por mais respeito que tenha por sua idade, saber da sua diabetes e ver fotos dos seus netos que, pelo jeito, não lhe dão atenção. Eu não queria ter que lhe responder qual o meu nome, o que faço e onde moro. Menti nas 3 perguntas que a senhora me fez. A senhora também não devia abrir a bolsa dentro do ônibus, para uma pessoa estranha, e mostrar seu celular novo. Primeiro porque é perigoso e, segundo, porque eu não queria ver. Levantei dizendo que ia saltar, mas menti pra senhora, de novo. Fui sentar lá no fundo, escondidinha, para ficar em silêncio. Me desculpe, percebo que a senhora está sozinha, mas  era exatamente o que eu buscava: ficar sozinha. 

Esse post é para a mulher que insistiu em falar comigo durante o seminário em São Paulo. Agora não, moça. Eu peguei um avião para vir aqui, ouvir as pessoas que estão na listinha que você recebeu também. Não fale comigo. Estou tomando notas e você está me atrapalhando. Não sei quem é você, não quero saber, não estou interessada na sua opinião. Por isso vou me levantar e, sem dar qualquer explicação, vou trocar de lugar. Com certeza você vai atacar a concentração do próximo que sentar-se a seu lado.

Esse post é também para um menino de 12 anos que enche meu saco querendo me adicionar no Facebook porque ele acha legal ser amigo de jornalista. Pediu 3 vezes. Na primeira, ignorei. Na segunda, expliquei candidamente que eu só aceitava pessoas que conhecesse pessoalmente e menores, somente se conhecesse os pais também. Hoje, quando pediu mais vez, depois de (arrrgh) me cutucar, fiquei com vontade de dizer: garoto, vai brincar com alguém da sua idade. Lamento que você tenha pais que permitam que você adicione estranhos ao seu perfil. Lamento que eles te exponham a esse risco. Lamento que eles não tenham te ensinado o que parece loucura nos dias de hoje, mas não fale com estranhos! 

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Porque não uso fone de ouvido 2




Vejam o que eu teria perdido se andasse pela rua com fones enfiados nos ouvidos! 


Fila no caixa das Lojas Americanas. Duas mulheres aparentando entre 25 e 30 anos. Loiras. Lisas. Segurando cestinhas repletas de produtos de cabelo.

Loira 1 - Acho que a gente tá levando muita coisa, não? Será que preciso desse aqui?
Loira 2 - Leva sim. É excelente já usei.
Loira 1 - Esse outro? É tão caro...
Loira 2 - Mas tá muito mais barato que nos outros lugares.
Loira 1 - E esse? Por que a gente tá levando esse também?
Loira 2 - É lançamento. Cabelo adora novidade.

(pausa dramática) 


Loira 2 - Olha, cabelo a gente tem que cuidar. Sabe por que? É muito olho! Cabelo liso cai de tanto que as outras mulheres olham. Quantas pessoas você conhece que tem cabelo bom de verdade como o nosso? Você anda na rua e as outras te olham "secando", vai por mim. Tem que cuidar!

Neste momento as duas percebem que havia alguém logo atrás, se viraram e deram de cara comigo - cabelo curtinho e meio ruinzinho. Fiquei com vontade de dizer: fiquem tranquilas. Só estou escutando a conversa.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Letra A do caderninho



Se você, assim como eu, se chama Ana, ou Adriana, Amanda, Angélica, Alice... E é da geração pré-Facebookeana, saberá do que estou falando. Um dia, do nada, um ex-namorado ou ex-ficante te telefona, começa uma conversa sem sentindo, com um gancho mal escolhido, e, meio titubeante, te faz algumas perguntas enquanto você se espanta com o tempo que passou sem que tivesse notícias dele. 

De onde apareceu esse sujeito? Faz dois anos que terminou com você... Ele nem se importava muito... Te deu um pé na bunda sem nenhuma classe... Que coisa mais estranha ele ligar agora, dizendo que se lembrou de você no ultimo Dia de Finados por causa da morte da sua avó 3 anos antes... E que a amiga da mocinha da novela das 6 se parece com a sua prima de Piracicaba. Por que ele quer saber onde você vai passar as férias ou se você foi à praia na semana passada?

Neste ponto, Adelaide, você acessa o arquivo-morto no seu HD pessoal para tentar determinar com exatidão de que capítulo da sua história saiu aquele sujeito. E você precisa recuperar alguns detalhes cruéis porque suas pernas tremeram ao ouvir a voz dele. Você foi pega desprevenida, Abgail, calma. Apesar do susto, a situação está sob controle. 

Você dispensa ele, Ágda, desliga o telefone e leva um tempo até concluir que: é sexta-feira à noite, ele está sozinho e com preguiça de ir para a noite garimpar. Essa esparrela toda era para saber se você está disponível. Ele tem a lembrança de que você é legalzinha e levemente desencanada. Ele acha que vai poder te dar o fora de novo sem que você se jogue na frente de um caminhão ou até que conseguirá um namorico sem compromisso porque você é metida à moderna e resolve seus dramas sozinha e sem exposição.

"E por que ele se lembrou de mim"? Ele NÃO se lembrou de você, Alcione! Você estava na letra A do caderninho, Andréa! Ele poderia ter ligado para a Alicia ou para a Arlete, Alessandra ou  Anita. Simples assim. Ele abriu o caderninho e telefonou. Talvez antes tenha tentado alguém que não atendeu. 

Se você tem mais de 30 anos  e seu nome começa com A, é muito provável que tenha passado por isso. E é bem provável que depois de levar um fora, ele tenha dito: "beleza, então depois a gente se fala". Não sofreu, não se frustrou, não se abalou nem esticou a conversa. Precisava tentar outro nome antes que ficasse tarde para sair.

Depois vieram as redes sociais, o status de relacionamento e tenho a impressão de que a ordem alfabética perdeu a prioridade na procura.