quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Um livro; duas histórias




 "A Árvore Generosa", de Shel Silverstein, traduzido no Brasil pelo Fernando Sabino, foi o primeiro livro que li sozinha; assim que fui alfabetizada. Guardo a edição que ganhei em 1977 com dedicatória da professora Vera Lúcia Alves: "eu sempre quis te ensinar mais do que palavras"... (suspiros)

Esse livro sempre me fez pensar sobre entrega e sobre limites. Em alguns momentos da vida somos meninos que tudo querem e em outros, árvores que entregam tudo o que têm a meninos gulosos, mesmo que em prejuízo próprio.

O livro foi reeditado há poucos anos. E comprei um novo exemplar bem animada para ler para minha sobrinha. Ela não gostou. "Tia, porque a árvore deu tudo para o menino e não ficou com nada para ela!? Tá errado isso. E ele não pensou nela? E ele cortou a árvore?", se indignou.

Outros anos se passaram e esta semana li o livro para meu filho, 4 anos. A reação também não foi boa. "Mãe, esse livro é triste e cortar árvore é ruim para o planeta. Não quero mais ler essa história", resolveu.

A leitura é outra. Do mesmo livro, das mesmas palavras, ilustradas com os mesmos desenhos, mas num mundo muito diferente.

Tia Vera me ensinou mais do que palavras. Me deu suas maças, seus galhos em que me balancei e seu tronco que virou barco para que eu pudesse navegar. E agora aprendo o que não se ensinava a uma menina em 1977: não cortar árvores e estabelecer limites menos elásticos.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Sonhar não custa nada


Meu filho acorda me contando uma história confusa e fantástica.

- Filho, você sonhou.
(pausa dramática)
- Sonho é quando a gente vê as coisas de olho fechado?
- Isso, filho, podemos dizer que sim.
- E por que quando a gente abre o olho o sonho some?
- Porque o sonho estava só na sua cabeça, enquanto você dormia. Quando você acorda, abre os olhos e vê o que está acontecendo de verdade.


Ele sorriu um pouco confuso, deu o assunto por encerrado e saiu arrastando sua cara gostosa de sono.

Eu queria ter continuado. Queria dizer a ele que o sonho é nossa válvula de escape; de coisas boas, de coisas ruins, proibidas... De medos, de fantasias... É uma forma de viver isso tudo sem censura, sem filtro. Sonho a gente não escolhe. Nossa cabeça sai para passear enquanto nosso corpo está entregue ao sono. E aí vem um filme de roteiro louco, embaralhando nossos desejos mais fortes com tudo o que escondemos durante o dia.

Os sonhos nos ajudam a organizar os pensamentos, nos denunciam, nos contam, nos revelam, nos fazem pensar, nos angustiam, nos divertem, nos fazem criar! Gostaria que ele refletisse sobre o privilégio que é sonhar. E nos lembrarmos do que sonhamos depois que acordamos.

Queria falar para ele de Freud, de José no Egito interpretando os sonhos do faraó, contar que os esotéricos acreditam que nossa alma vai a outros lugares enquanto dormimos, queria cantar o samba enredo na Mocidade Independente de Padre Miguel de 1992... "Sonhar não custa nada. O meu sonho é tão real. Mergulhei nessa magia. Era tudo que eu queria para esse carnaval..."

Mas ele se foi... de pijama, descabelado, assistir ao desenho animado na televisão. E deixou minha ansiedade de mãe aqui nesse post. Obrigada, meu blog, por ter poupado meu filho desse surto materno.


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

O problema é que a academia de ginástica não gosta de mim



- Te espero na sexta-feira então
- Não espere. Essa aula não é o que eu imaginava.
- Você nunca tinha feito aula de alongamento?
- Já sim, mas deste jeito, coreografada... Achei uma loucura.
- Mas é tão legal!
- Não acho. Tenho muita dificuldade em acompanhar coreografia.
- Ah, você consegue!
- Não vale o esforço mental; eu não me divirto.
- No início é um pouco difícil.
- Olha, difícil não rola. Já tenho muita coisa difícil para resolver fora da academia.
- Mas a aula fica linda assim!
- Para mim é puro constrangimento. Fujo de aula coreografada desde a aeróbica dos anos 80.
- Mas com o tempo você aprende.
- Não tenho tempo. E, depois dos 40 anos, me dou ao luxo de não me obrigar a aprender certas coisas. Obrigada pela tentativa, de qualquer forma.

Respiro fundo, peço um suco na lanchonete da academia, mas o que eu queria mesmo era uma tomar um vodca. Uma mulher encosta ao meu lado e diz baixinho:
- Você achou difícil? Foi a aula dela mais fácil que já fiz!

Eu não gosto de academia, mas definitivamente, ela também não gosta de mim.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

No guarda-roupas 4 - O extermínio



Desde os 30 já vinha evitando algumas peças que não me favoreciam. Quando se tem 20 anos, pode-se usar tudo. Se for magra então, tu-do mesmo. Pena que quando eu tinha essa idade me faltavam confiança e repertório.

Nesse ano que passou, eliminei algumas peças em definitivo. Não servem para mim e vou explicar o porquê. Importante dizer que resolvi o que não servia olhando para o espelho. Ninguém mandou; ninguém disse que deveria ser assim ou assado, não estava escrito em nenhum guia de estilo. Então, se olhe no espelho e resolva quem você quer ser - ou, pelo menos, parecer que é.

Não uso mais:

- Joelho de fora - o joelho cai, a pele em volta dele enruga, e prejudica a aparência do rosto que estou lutando para manter com poucas rugas e manchas.
- Camiseta engraçadinha - chama muito a atenção, todo mundo olha e quando esse olhar sobe para o rosto, encontra uma senhora, mãe de família. Estranho.
- Unhas grandes e esmalte escuro - meus dedos são curtos e quando usava esmalte escuro, eles pareciam mais curtos ainda. Unhas grandes simplesmente acho feio e anti-higiênico.
- Botas com saia - acho que deixa quem é baixinha atarracada e dá um ar meio infantil.
- Biquíni estampado - Estampa engorda até no biquíni. Meus biquínis agora são pretos e azuis marinho.
- Sapatilhas com laçinho - teen
- Braço de fora - tenho o braço gordo. Desproporcional.

Não uso, mas gostaria:

- Colar de pérolas - acho lindo, mas envelhece, não?. Procuro um que tenha algum estilo.

E me dei conta que há coisas que nunca usei, seguindo nas duas a mesma lógica:

- Jeans rasgado - me explica: como é pagar por uma roupa que já vem estragada?
- "Tie dye" - e como é pagar por uma roupa que já vem manchada?